sábado, 14 de agosto de 2010

Logicomix é ducacete!!!

Caramba! Esse é o post mais atrasado dos últimos anos! Escaneei a capa e três páginas de dentro desse excelente livro em quadrinhos, e batalhei longamente pra botar ao menos uma imagem de página interior do livro , mas neca do jpg baixa resolução fazer a viagem, só mesmo a capa. Minha presente conexão de fato está pior.Mas vamos ao assunto de hoje, essa magistral e incomum hq. A atual evolução dos quadrinhos tem ampliado o seu tamanho médio. Não é mais difícil encontrar na livraria  hqs de 300 páginas ou mais. Este tem 310 páginas em cores, e discute, de modo metalínguístico muito bem urdido, a história pessoal dos pioneiros do estudo da matemática avançada no século vinte, principalmente a paixão de Bertrand Russell pela lógica. Romanceia certas partes de sua vida, omite outras, e admite isso. Em função de mostrar melhor a conexão entre trajetórias pessoais e intelectuais de algumas das figuras de ponta da matemática e da filosofia do século vinte, como Alfred North Whitehead, Kurt Gödel, Ludwig Wittgenstein, Alan Turing, Georg Cantor, Henri Poincaré, e diversos outros matemáticos/filósofos marcantes. Ao longo do livro, eles e também  Apostolos Doxiadis ( argumento  e roteiro) , Christos Papadimitriou (argumento) Alecos Papadatos (desenhos) e Annie Di Donna (cores) trocam idéias , mostrando a epopéia pessoal e coletiva da lógica moderna. Tudo isso sem parecer dar aula, mas com  bastante discussão filosófica apresentada de forma clara. O livro é uma ousadia, e deve ter demorado bastante tempo para ser feito. Cabem algumas observações sobre o estilo escolhido (criado?)  por eles; uma espécie de linha clara moderna, ensolarada. A linha clara é a principal escola franco-belga de hq, desenvolvida desde os anos 40 com o Tintim, depois com Blake & Mortimer, e por aí vai. O que eles criaram é uma linha clara mais sensível ao aspecto emocional da história, e ficou bem legal. Esses gregos originais, autores do Logicomix, são moradores de Atenas. A cidade também aparece na hq, apesar de não ter qualquer eelação com Bertrandd Russell, mas ficou pertinente;façanha da boa narrativa!! Ainda por cima, infiltra Ésquilo na conversa, também sem desafinar.Claro que no final tem boas notas completando as informações vistas na narração. Conseguiram criar uma abordagem mais solta dos preceitos da linha clara;   tais como desenhar os personagens de modo mais simples que os cenários, realizar os volumes com a cor e  dar um tratamento sintético , não  romântico, às anatomias e cenários; ligeiramente humorístico, sem ser  caricatural. Simplificado e de leitura rápida. Acho que o Scott McCloud deve ter gostado. O estilo não exclui o humor, mas  quer mesmo é fornecer descrições simples, precisas, de pessoas e situações.É ótimo para as perguntas em jogo, para as peculiares poesia e epopéia  dessa gente. Fiquei sabendo, por exemplo, que muitos grandes lógicos endoidaram... e o desenho se relaciona com esses sentimentos, não só com os cenários que mostra. Amanhã eu tento de novo postar algumas das pgs de dentro desse magnífico gibi, que pode ser o único que você vai comprar esse ano, numa boa. Aí vou exemplificar  o que digo sobre o desenho incorporar o clima de medo como o de alegria, nas vidas dos bacanas envolvidos. Sim; continua no próximo e emocionante episódio; com a pergunta que sempre volta: isso é realismo?

domingo, 8 de agosto de 2010

Retomada Johnson: Oceano!!



Chega de silêncio! Chega de silêncio! Já fiquei quieto tempo demais! Retomada Johnson, ao ataque!! Tenho, desde que comecei a escrever aqui, cometido umas ausências, mas essa foi a mais longa de todas. Não vai continuar!! Textos fora, que fico esculpindo aos poucos, não deviam me afastar daqui tanto assim. O que é pra ser fruído logo depois de escrito também tem seu valor. Além do mais, porque eu, pelo menos, aprecio os trens em que tenho embarcado, até aqui,  O mote que  continua em pauta, apesar da data que faz que não volto aqui, é a discussão do realismo e do romantismo em quadrinhos de aventura. Existem muitas variantes possíveis, e o exemplo de hoje, a excelente hq "Oceano" de Warren Ellis (roteiro), Chris Sprouse (desenhos) e Karl Story (cores), mostra isso muito bem. É de um realismo interessante essa hq. Num contexto de FC, ou seja, apesar do absurdo das características da situação, e da sua solução, o parente mais próximo é a hard sf, a que leva em conta a verossimilhança da tecnologia. A que discute as transformações da vida a partir de hipóteses claras, muito inteligentemente alinhavadas, subsumidas ao texto de modo a se integrarem, à narração com algumas falas e diálogos escritas de modo bastante preciso. De maneira igualmente precisa, a arte não mostra nada que não se integre ao todo, e com o mínimo de elementos possíveis. A hq não glorifica uma beleza que se imporia a nossos olhos, dizem os autores, já desde as menores informações. Mesmo a beleza das cores do gibi não glorifica o que narra, num curioso encontro da sensibilidade de um Arthur C. Clarke com a de um H. P. Lovecraft.  Medo e sense of wonder de mãos dadas!! No que escrevo, aspiro a isso, portanto sei que é difícil e que o uso de qualquer tempero fora da proporção escangalha a refeição! Hoje em dia, com a inflação de informação que rola em nossos quintais, sabemos que citar não deve ser feito de graça, e sim com propósito, senão a história vira catálogo. Apresso-me, assim, a garantir que Ellis também nesse departamento se mantém conciso e discreto. Outro diferencial de "Oceano" é seu ritmo narrativo muito bem trabalhado, em que a sucessão dos acontecimentos joga muito bem com seu ritmo e sua sucessão. Só acho que cada página merecia mais quadros. Esse negócio de lotar de quadros horizontais aproxima demais de um storyboard de luxo. Creio que se pode  ser realista de maneiras mais ricas, mas  esse gibi já é diferente dos outros gibis industriais dos quais é derivação, os de super-heróis. Como um gibi Vertigo, voltado para a FC e não pro fantástico, leva sua sensibilidade mais amadurecida para o visual também. Só de não encontrar estudos glorificados de anatomias atléticas a cada quadro, já acho o máximo. As pessoas parecem mais...pessoas, e as coisas tremendas que lhes acontecem me interessam mais e melhor que a inflação de impossibilidades típicas de um super-herói!! Enfim...continua, sim, no próximo e emocionante episódio!!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Os dias da Peste

Acabo de ler o recém publicado, e ótimo, livro de Fábio Fernandes, "Os Dias da Peste". FC brasuca da boa, muito realista tanto no texto principal como nas satíricas notas de pé de página, um achado. Nada de salvação do universo, de space opera., de escala grandiosa de eventos.Aqui, eu tenho discutido , embora faz tempo não escreva no pedaço, as relações entre realismo e romantismo, verdade que nos quadrinhos.Essa leitura pwermite continuar a  trocar idéias sobre o dito assunto.. Além de ser muito bacana, creio que o livro se encaixa  bem,  numa discussão relativa. Os eventos, no livro, afinal, podem abranger uma sociedade inteira, mas nunca são "transcendentais". .A discussão se transforma, uma vez que o livro é texto, e não hq. Mas não deixa de acrescentar...Claro, assim como existem hqs ingênuas, existem outras realistas, e teria que ser o caso dessa novela, caso fosse adaptada. Mas realismo não é detalhismo, Frank Frazetta não é Boris Vallejo. No livro do Fábio  não cabe nenhum herói, nenhum romantismo, nenhuma epopéia. O livro, traz um jeito cotidiano ao gênero, o que lhe faz bem, descongela o que muitos ainda pensam ser seu molde, por aqui. A história terá talvez sido sugerida ao Fábio por um dentre os muitíssimos livros que cita, (todo mundo lida com inflação de informação) " Um diário do Ano da Peste", do Daniel Defoe, o do Robinson Crusoe. Embora esse livro seja uma  ficção, e se refira a pessoas inventadas, os eventos descritos  tratam do tremendo impacto da epidemia de uma peste horrível, em Londres dos mil seiscentos e tanto. Fábio atualiza o conceito, ficcionalizando a doença também; mais não digo, que é falar demais. O livro dele , publicado com acerto de produção gráfica e capa pela Tarja Editorial, de SP (onde mais?), merece entregar suas surpresas na hora em que escolhe fazê-lo, não antes. .A ação se passa no Rio, o que dá um outro sabor, com o rico tempero de referências que traz ao texto. Embora o gosto de tanta gente pelo Cervantes e pela boemia de Copacabana me escape... Senti um pouco de falta da Lapa, pelo outro lado, mas isso é implicância, não pensamento consistente. Se fossem desenhar esse livro em quadrinhos, todo o começo de Copacabana teria que ser  retratado em detalhe, com humor. Diversos bairros da cidade teriam que ser estudados com calma, e caricaturados também . O realismo, de um jeito menos zangado que muitos românticos, é humorista,sim; e  a sua redução das proporções humanas não ao escultural, heróico, mas ao patético, é um grande ganho. Penso num traço de humor porque o livro tem muitos momentos dele. Um olhar que sabe rir não esperaria grandes heroísmos de personagens e situações, que não dispensam sua dureza, ou seu caráter prosaico, só por estarem misturados com o desenvolvimento da tecnologia.Os quadrinhos franco-belgas, uma das main schools da mídia, gostam de exatidão de cenários e deformação, humorística ou não, simplificadora ou não, de personagens. Não ficaria bacana botar um Tardi pra estudar geografia carioca? Bem, é claro que essa longa brincadeira realista/romântica ainda não acabou, e esses dias volta ao centro das atenções. Fica aqui minha entusiástica recomendação da leitura desse livro LE-GAL! Excelsior!

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Zola e Frazetta



 Essa incursão, hoje, no mundo do comentário de literatura, está ligadíssima com o tema do realismo e do romantismo em hqs de aventura. É só  ter paciência que se vê por onde.Enquanto isso, quem sabe, a gente hoje se diverte junto de um modo ligeiramente diferente... Pra começar, limitada essa capa, né? Quem já leu a prosa enfurecida desse mestre do folhetim popular não viu nada de tão estático, mas o mergulho apaixonado no mundo cujo panorama  traçava, acho que semanalmente, na grande imprensa, sob os olhos de todos. Émile Zola  (1840/1902) escreveu caudalosamente, e saiu sempre primeiro no jornal, sendo depois reunido em livro. O miolo de sua produção foi o ciclo dos Rougon-Macquart, uma  família presente nos pontos nodais da sociedade francesa, tais como ele os via (é claro). Assim, havia um Lantier no escuro dos subterrâneos espremidos, quando o terrível risco de vida, por parte dos trabalhadores, foi  parteiro do movimento sindical- "Germinal", esse conhecido clássico da literatura francesa, é o romance das  minas de carvão! Havia uma Lantier nos cabarés e prostíbulos elegantes frequentados pela nata da época - a própria "Nana" cuja desgraçada trajetória acompanhamos, nesse romance da difícil vida fácil! Havia um Lantier alucinado  domando um motor acelerado pelos caminhos , no romance das estradas de ferro! É " A Besta Humana" de que fala o título, que completa o trio de obras dele que li até agora. Todos têm em comum a ambição de "dar conta" de seu assunto, fornecer uma descrição exaustiva e acabada, que faça aparecer os sintomas das doenças! O naturalismo , realismo radical do qual esses  folhetins estão entre as expressões máximas, pretende ser um diagnóstico, compreendendo que atrás do se vê há o que de fato se passa. O que é que isso tem a ver com quadrinhos? Ora, vocês acham que, se Zola virasse hq, seria o hiperdetalhismo da hq de super-heróis, o tratamento mais adequado? De um realismo que se pretende sintomatologia? Não é  desenhar os músculos de modo preciso e bem no lugar que garante sua expressividade...Todos os grandes desenhistas sabem disso, saltando à mente , dois exemplos. Primeiro, o  óbvio, o do Frazetta, de quem aqui se tem falado; e também o do primeiro grande mestre do jogo de luz e sombra nas hqs, Milton Caniff, autor  de "Terry e os Piratas" e "Steve Canyon". Este formulou o problema assim: "Nunca desenho os músculos onde estão, mas onde parecem estar. " Ou seja, caindo na real, nossa percepção nunca é completa. Por isso, não se trata de detalhar, mas de aprofundar a pesquisa para saber usar os detalhes certos. Por isso, para um Zola, a literatura, a narração, tinha o dever de desvendar. Querer compreender, junto com o leitor. Lima Barreto escreveu, numa epígrafe, mais ou menos o seguinte: "Escrevo para que se compreenda em quinze minutos o que demorei uma vida para entender"- Ou por outra, já imaginaram um Frazetta que lesse Zola, que se quisesse realista??? Ca-cil-da!! Essa é uma realidade paralela na qual eu gostaria de morar!!

terça-feira, 25 de maio de 2010

Anno Dracula

 É impressionante esse livro do Kim Newman...eu já tinha lido faz um tempo, agora foi lançado em português,  aproveitei pra reler.  Presta-se muito bem a uma pausa no trem de realismo e romantismo em hqs de aventura, por que tenho viajado esses dias.  A edição brasileira tem uma vantagem quanto à minha, um pocket. A edição brasuca traz, entre outros extras, um atlas dos coadjuvantes, quase todos personagens pré- existentes.  O livro tem em comum com qualquer atitude realista o alto nível da sua pesquisa. Esse atlas mostra ao leitor mais desavisado que por parte do elenco nãoi foi criado para o livro, está lá reinterpretado. Como realiza isso numa narrativa muito ágil e bem construída, é leitura instigante! Não se trata só de dizer que Dracula se tornou Príncipe Consorte da  rainha Vitória. Em torno deles, estão presentes os mais variados vampiros, seus antepassados nesse estilo de literatura. Só falta o horla (vampiro psíquico criado por Guy de Maupassant, presente em todas as boas antologias de literatura sanguessuga). Porque Carmilla está lá, e também lord Ruthven ...  entre outros! São personagens de folhetim ou mitológicos, que a primorosa pesquisa de Newman faz render muito bem, compo parte de uma sociedade que se vê transformada, e no caso, transtornada também. A hipótese que aventa, para a identidade de Jack o Estripador, se coaduna com essa lógica de vampirizar não só os folhetins prévios, como o registro da época na sua cultura popular. Tudo isso com uma visão crítica do império britânico e dos impérios, em geral. E  é uma grande sacada, muito bem realizada! O tipo do livro que exigiu paciência e amadureceu, dentro do autor. São vampirizadas não só as histórias de vampiro, mas a ficção popular vitoriana.  Assim, até o elenco de apoio de Sherlock Holmes dá  as caras, junto com personagens de H.G. Wells e Robert Louis Stevenson. Em suma,  esse livro está pro mundo dos vampiros assim como "Tarzan Alive", do Philip José Farmer, está pro mundo dos heróis de folhetim. O que não é dizer pouco! O Gerson Lodi-Rinbeiro, escritor brasileiro que gosta de trabalhar com história alternativa, chama esse jogo de "Ficção alternativa", já que trabalha um ponto de variação não a partir de momentos da suposta "história real" , mas a partir do folhetim antigo. "O que aconteceria se Dracula tivesse vencido Van Helsing?" É a pergunta que se faz, em vez de "O que aconteceria se a informática tivesse acontecido na era vitoriana"? Ambas são válidas, dão boas histórias. Caracterizam  a  dita "ficção alternativa" e  a "história alternativa". A segunda, de onde puxei a premissa, é exemplificada por "The Difference Engine" de William Gibson e Bruce Sterling, que trabalha com a premissa da informática. Tudo excelente leitura, e o que é mais impressionante, hoje em dia, passível de ser achado em português do Brasil...eu acho bom sinal. Também acho, com diversos outros que se "arriscam na caneta", que o momento contemporâneo pode ser uma abertura de caminho pra quem fizer a FC brasuca participar da busca, um tanto espinafrada, esbanifrada, mas busca, que se nota sim, pela cara do Brasil. Ou é bobgaem isso, peça do meu museu? Queria ter relações mais próximas com mercado livreiro...isso é, eu e a torcida do flamengo, né isso? Excelsior ! Evoé! Volte sempre!

domingo, 23 de maio de 2010

Mais considerações Frazéticas

 Não consegui escanear a imagem tão bem quanto queria, mas ela faz o serviço. Sei que já passou um tempo desde a triste notícia que trouxe esse tremendo artista popular para a atenção do Enquanto isso, o devezenquandário renitente. É que, como o leitor há de lembrar,venho discutindo presença do romantismo e do realismo nas hqs de aventura. Depois de um início de carreira bastante envolvido com hqs, Frazetta encontrou seu caminho de fato como ilustrador, um termo amplo , no qual cabem o pintor,o  capista de livro e disco, o cartazista de cinema, o diabo e mais um pouco. As capas que fez pra Warren, e logo depois as hoje famosas capas pra reedições de livros (sim, ele foi criado como personagem de folhetim) de Conan o Bárbaro nos anos 70,marcaram época. Atraíram legiões de fãs, no mundo das hqs apenas para começar, e influenciaram  muita gente, de um John Buscema a um Roger Dean. Passando até pelo Druillet  (segundo o próprio, nas antigas)!!! Como os desenhistas de hq imitaram suas figuras e figurinos! Claro, contudo, para além de quaisquer adereços, Frazetta tinha essa tremenda compreensão do corpo humano. Isso possibilitava tanto o óbvio,  a distorção declarada, como a sutil. Escolhi essa capa pro post de hoje porque ela ilustra ainda de um outro modo o diálogo do realismo com o romantismo. O camarada no quadro está tragicamente apavorado! Esse poder de "atuação", a expressividade de seus personagens, permanece inigualado. Acho que é a base por cima do qual o seu talento para atmosfera, cenografia e figurino, realizou seu imaginário épico, um paradigma do pop aventuresco. Mesmo se não estivessem lá os lobos que cercam o camarada, , a imagem ilustrando a conversa de hoje ainda seria capa assustadora. A maneira de desenhar e pintar o medo que o sujeito sente é mostrá-lo todo exagerado. Como " o mais apavorado possível". A carga emocional operática que seu trabalho tinha, aqui nesse caso, está voltada para mostrar a vulnerabilidade, a fraqueza do personagem . Nesse sentido, acho que aqui o conhecimento de como o medo transforma a pessoa (realismo) e de como pode fazer isso "ao máximo" se encontram com muita felicidade. É uma imagem mais realista porque, no fim de contas, ao menos por um momento, o assunto da pintura tem músculos como os do leitor..Quando falta o herói na imagem, Frazetta ainda é mais crível!!! Bem, por hoje é isso! Excelsior! Volte sempre! Eu volto logo!!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Elogio do Frazetta

 O trem aqui era outro, esses dias, mas certos acontecimentos nos desviam dos percursos inicialmente plotados : no mundo real, afinal, as coisas afinal são mais ágeis do que a elaboração acerca delas. Não é que, meros dias depois de eu ter postado uma imagem do Frazetta aqui no Enquanto isso, ele faleceu? Sim, o leitor desse blog decerto sabe, mas não custa esclarecer: Frazetta era o mestre dos mestres da ilustração fantástica, o criador do paradigma de romantismo fantástico na ilustração popular. Barroco de massa. Infelizmente faleceu esses dias, aos 82 anos. Uma era terminou de passar. Com o sumiço de gente como ele, Joe Orlando, Dick Giordano, vai terminando de sumir todo um modo de pensar e sentir...o tempo em que quadrinhos eram entretenimento polular com apenas certos toques autorais, e seu mercado era bem maior. O alcance do trabalho de Frazetta extrapolou isso em muito, é claro. Aconteceu na década de sessenta e foi um dos índices dos tempos. Foi com ele que a fantasia heróica assumiu de uma vez seu lugar no mundo pop. Sua arte visionária codificou todo um pseudo-realismo, um onírico detalhado e sensual com músculos estilizados e sensualidade quase nua. Trouxe pras capas de gibis e revistas e publicações variadas uma noção de anatomia subvertida,uma imaginação ousada , criativa como poucas, e  tributária de todo um imaginário que o mccarthismo e o dr. Wertham teriam erradicado....Profissional de hq dos anos 50, Frazzetta nos anos 60 ampliou seu mercado de um modo estúpido,o que o livrou do destino esculachado de gigantes como Jack Kirby.  Fez capa de livro, de disco,  de filme, o diabo. Até o Clint Eastwood (Dirty Harry, acho) passou pelos seus pincéis, mas foi desenhado, não copiado!!! Até hoje tem gente imitando, e não vai deixar de haver...Mas não adianta, não tem pra Boris Vallejo nenhum! A base do trabalho de pintor de mestre Frazetta é  o tremendo desenho de mestre Frazetta,  sua insólita visão das coisas...  não gente parada, fotografada.  Frazetta terá usado quase nenhum modelo, e se usou anarquizou-lhes as anatomias e os figurinos de um tal jeito...Não há dúvida, seu trabalho parece realista mas traz é poderoso romantismo injetado, além de uma imaginação vitaminada já filha do pop, super-informada, por comparação ao que terá sido acessível a um Virgil Finlay (outro grande ilustrador , mais de FC que de fantasia, que atuou décadas antes). Eu pessoalmente gostaria que Frazetta tivesse feito mais quadrinhos, mas na época...Por outro lado, nem o grande Archie Goodwin tinha um texto à altura. Se na época se imprimisse hq com a qualidade de hoje, porém , dá pra imaginar o Conan que teria feito. Contudo, será que o caminho trilhado por ele e tantos outros, com resultados tão bacanas e também ruins (dependendo de quem e como fez) é o único, pra que haja uma hq bacana? Ou será que podemos ser românticos também acerca...do realismo? Bem, continua no próximo e emocionante episódio!!