segunda-feira, 18 de maio de 2009

"A Fúria do corpo" e "O Cego e a dançarina"



O título do post de hoje enumera os títulos de dois livros de um tremendo autor brasuca com quem estive há muitos anos, João Gilberto Noll. Desde então, já publicou muitos outros livros, mas os que ficaram comigo são esses dois, que já tavam publicados, e aclamados, ali pelo meião dos anos oitenta. Sei que o camarada é prolífico, mas por algum motivo não consegui lhe por as mãos na produção posterior. Aquelas coisas: Não ver quando tem a grana na mão, não ter a grana na mão quando vê.Ao menos "Harmada" , do qual me falam muito bem, ainda vou caçar. Eu já tinha lido "O Cego e a Dançarina", brilhante livro de contos com o qual estreou, quando o conheci, dentro do bar. Naquele momento,eu tava muito absorvido por "A Fúria do corpo" seu caudaloso primeiro romance, que tem sua foto, imensa, nas costas,(pelo menos a edição que ainda tenho) e foi assim que eu e o Juarez Veras o identificamos. Tás pensando? Botequim também é cultura!!! Isso aconteceu no "Ribeiradio", amplo boteco que não existe mais, quase na esquina da Real Grandeza com a São Clemente. Juarez tinha me emprestado " A Fúria do Corpo", que devo confessar, confisquei. O livro é um romance ou talvez uma rapsódia, no sentido em que "Macunaíma" também é. Menos trama e muito clima, acontecimentos desdobrados uns dos outros menos como encadeamento e mais como celebração, mesmo que se sofra pra chuchu. Entramos no bar pro que era uma praxe nossa da época, uma geladinha com steinhagen, e Juarez começou a dizer que já tinha visto "aquele sujeito ali no canto" em algum lugar. Eu concordei. Ficamos matutando, até que eu olhei a contracapa do livro, que estava ali comigo no bar!!! Era o cara, sim!!! Em minutos, criamos coragem e o abordamos, fato que virou longa conversa literária noite adentro, e me lembro que falamos sobre a necessidade ou não de dividir um texto grande em capítulos. Esse romance não tem divisões, é um bloco de texto, e se lê sem largar. Ele disse que não foi decisão racional, o livro se escreveu assim mesmo. Eu acredito: parece coisa de um Henry Miller que também gostasse de homem, narrando/mostrando a imensa odisséia sexual/existencial de um vagabundo erudito (ou na época pareceu) e solitário, que passa por cada uma de arrepiar, mas nunca negocia seus sentimentos; nunca deixa de ser sincero com relação a eles. Tem forte caso com uma mulher e com um homem, sendo o livro a narração de tudo o que esses três passam, perto ou longe um do outro, a partir dos olhos desse camarada que o livro acompanha, parecendo vagaba também, e tem cada coisa do cachorro chora, ficando eu com a sensação de que o livro só acabou por cansaço,não porque qualquer trama se resolvesse. Era o relato contínuo da vida, talvez mais colorido que os acontecimentos, mas a literatura não elabora o quotidiano? Entre outras coisas... Saí do bar aquela noite muito impressionado, e com o telefone do cara. Ele foi muito gentil, eu pretendia continuar a conversarmos, mas as cervejas que foram pra casa comigo esconderam o telefone dele e nunca mais achei. Juarez dizendo que ele inventou aquelas coisas todas, não as viveu. Continuo achando que, mesmo quando você não fez as coisas que seu personagem fez (o que é a maioria dos casos), um pouco de seu viver se estendeu naquela direção, deu corpo e rosto a ele... Outro dia, estava passando na área, que parece outro lugar (tem muito menos boteco na cidade...) Hoje tem grafite pra chuchu onde na época só tinha pichação, mas lá perto, me lembrei, e por hoje foi esse acaso que registrei... sim, já foi mais óbvia a relação entre literatura e boemia!!! Evoé Baco(diria Eddie Campbell, de quem também quero falar, um dia desses)!!

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