quarta-feira, 16 de junho de 2010

Os dias da Peste

Acabo de ler o recém publicado, e ótimo, livro de Fábio Fernandes, "Os Dias da Peste". FC brasuca da boa, muito realista tanto no texto principal como nas satíricas notas de pé de página, um achado. Nada de salvação do universo, de space opera., de escala grandiosa de eventos.Aqui, eu tenho discutido , embora faz tempo não escreva no pedaço, as relações entre realismo e romantismo, verdade que nos quadrinhos.Essa leitura pwermite continuar a  trocar idéias sobre o dito assunto.. Além de ser muito bacana, creio que o livro se encaixa  bem,  numa discussão relativa. Os eventos, no livro, afinal, podem abranger uma sociedade inteira, mas nunca são "transcendentais". .A discussão se transforma, uma vez que o livro é texto, e não hq. Mas não deixa de acrescentar...Claro, assim como existem hqs ingênuas, existem outras realistas, e teria que ser o caso dessa novela, caso fosse adaptada. Mas realismo não é detalhismo, Frank Frazetta não é Boris Vallejo. No livro do Fábio  não cabe nenhum herói, nenhum romantismo, nenhuma epopéia. O livro, traz um jeito cotidiano ao gênero, o que lhe faz bem, descongela o que muitos ainda pensam ser seu molde, por aqui. A história terá talvez sido sugerida ao Fábio por um dentre os muitíssimos livros que cita, (todo mundo lida com inflação de informação) " Um diário do Ano da Peste", do Daniel Defoe, o do Robinson Crusoe. Embora esse livro seja uma  ficção, e se refira a pessoas inventadas, os eventos descritos  tratam do tremendo impacto da epidemia de uma peste horrível, em Londres dos mil seiscentos e tanto. Fábio atualiza o conceito, ficcionalizando a doença também; mais não digo, que é falar demais. O livro dele , publicado com acerto de produção gráfica e capa pela Tarja Editorial, de SP (onde mais?), merece entregar suas surpresas na hora em que escolhe fazê-lo, não antes. .A ação se passa no Rio, o que dá um outro sabor, com o rico tempero de referências que traz ao texto. Embora o gosto de tanta gente pelo Cervantes e pela boemia de Copacabana me escape... Senti um pouco de falta da Lapa, pelo outro lado, mas isso é implicância, não pensamento consistente. Se fossem desenhar esse livro em quadrinhos, todo o começo de Copacabana teria que ser  retratado em detalhe, com humor. Diversos bairros da cidade teriam que ser estudados com calma, e caricaturados também . O realismo, de um jeito menos zangado que muitos românticos, é humorista,sim; e  a sua redução das proporções humanas não ao escultural, heróico, mas ao patético, é um grande ganho. Penso num traço de humor porque o livro tem muitos momentos dele. Um olhar que sabe rir não esperaria grandes heroísmos de personagens e situações, que não dispensam sua dureza, ou seu caráter prosaico, só por estarem misturados com o desenvolvimento da tecnologia.Os quadrinhos franco-belgas, uma das main schools da mídia, gostam de exatidão de cenários e deformação, humorística ou não, simplificadora ou não, de personagens. Não ficaria bacana botar um Tardi pra estudar geografia carioca? Bem, é claro que essa longa brincadeira realista/romântica ainda não acabou, e esses dias volta ao centro das atenções. Fica aqui minha entusiástica recomendação da leitura desse livro LE-GAL! Excelsior!